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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Meu Sepulcro - um conto de Denis Cruz

A morte como uma escolha. Nunca pensei em me entregar assim, de vontade própria.

Respiro fundo e um cheiro doce parece tomar todo o ar que me envolve. Ouço música ao fundo. Boa música. Um coral, quase celeste.

Meus pés descalços tocam o fundo gelado, enquanto meu corpo quase flutua na água que bate à altura do peito. Não me oponho à força que me impulsiona para trás e, de olhos abertos, deixo a água me cobrir por completo. Eis o sepulcro da minha carne.

Não há luta; não resisto. Mesmo assim, sem resistência, sobem inúmeras bolhas, prismando a luz que reflete na água transparente.

Param as bolhas. Um arco-íris se desdobra estático à frente dos meus olhos. O tempo já não existe, permitindo minha mente viajar ao passado.

Eu queria ter uma história fascinante para contar. Queria dizer que fui um assaltante, um assassino, um alcoólatra; que usava drogas ou que me prostituía. Nada disso. Nada de excitante, nada de espetacular.

Um cara normal, de quarenta e dois anos; um eterno engravatado enfiado atrás de sua mesa empresarial de sucesso. Dois filhos adolescentes, uma bela esposa e uma conta bancária confortável.

Estranho é dizer que, apesar de tudo, sempre me senti vazio. Não era ganância, mas algo me faltava. A vida não podia ser aquele mundinho coberto pela minha rotina. Aliás, eis algo em que eu era campeão: manter a inabalável organização dos meus dias. Minha vida era regida por princípios de eficiência no trabalho, pelos cinco S's, por métodos de organização e essas coisas que se aprende em palestras motivacionais.

Enfim, minha história não daria um bom livro ou sequer um bom microconto. O leitor torceria o nariz nas primeiras linhas e abandonaria o conto da minha vida.

Mas por que morrer, se tudo estava tão perfeito, tão controlado, tão previsível, tão certo? Só posso dar uma resposta: a angústia.

Algo terrível me oprimia, me apertava o peito. Flagrava-me, vez ou outra, com um nó na garganta ou olhos cheios de lágrimas. Algumas vezes não suportei e, sozinho, chorei. Meu pranto sempre foi longe da família, não queria expressar qualquer fraqueza diante dela.

Cheguei a comentar por alto com amigos próximos. A sentença foi unânime: depressão.

Pois bem, me tratei. Fui medicado. Alguns dos remédios me deixaram meio abobado, menos produtivo, sonolento. Nenhum deles sarou minha inquietude, minha falta de perspectiva para a vida.

Deixei de lado aquela porcaria toda. Preferia ser um doido produtivo a um maluco movido por antidepressivos. Definitivamente, não era de remédios que eu precisava. Pode até funcionar para algumas pessoas, mas para mim não surtiu qualquer efeito.

Lembro-me de certa reunião com um cliente, ocorrida um ano atrás. Após nossa conversa, ele saiu da minha sala e deixou sobre a poltrona um pequeno folheto. Não sei se houve qualquer intenção na deixa daquele pequeno escrito, mas o fato é que ele me atraiu a atenção.

Sentado em minha poltrona, observei de longe parte das letras que anunciavam: "A solução para seus problemas." Girei-me na cadeira; para um lado e para o outro. Era demais querer me enganar que aquele papelote teria a solução para minha angustia.

Livrei-me de qualquer esperança e busquei o folheto. Li o cabeçalho da frase que me era, até então, invisível do outro lado da mesa: Jesus.

- Crentes! - a palavra saiu com desdém dos meus lábios. - Eles acham que é tão simples. Pensam que esse tal Jesus resolve tudo.

Sentei-me de volta na poltrona. O papel em minhas mãos ainda me convidava à leitura. De fato, meus olhos percorreram as letras, uma a uma, formando palavras e frases completas.

Não suportei. Chorei. Não sei dizer exatamente por que um artigo tão simples me tocou daquela forma intensa. Recordo de uma frase: "Jesus tem o exato tamanho do vazio de sua vida."

Impossível. Não podia ser tão simples. Não podia o tal Cristo ser a solução, ser o preenchimento para minha existência.

Peguei o telefone e limpei a garganta enquanto ligava para o celular do meu cliente.
- Antunes - eu disse na linha. - Sou eu, o Pedro. Você deixou cair um folheto aqui na minha sala.

- Ah, não se preocupe com isso, Pedro - disse a voz do outro lado. - Tenho vários aqui. Pode ficar com esse e, se tiver um tempinho, dê uma lida.

- Eu li - minha voz saiu um pouco embargada.

- Que bom. Espero que você tenha gostado.

- É verdade isso tudo que está escrito? Esse tal Jesus pode preencher o que falta em minha vida? Como eu faço?

Um breve silêncio precedeu a resposta. Creio que Antunes, naquele momento, não estava preparado para perguntas daquele tipo. Com certeza, ele sequer imaginava a dor que me afligia.

- Pedro, o que você conhece sobre Jesus? Você quer conhecê-lo de verdade?

- Não conheço praticamente nada. E, sim, se Ele tem uma solução para mim, eu quero conhecê-Lo.

Antunes me disse o que fazer e cumpri à risca. Desliguei o telefone e tranquei a porta do escritório. Ali, no meio da minha sala, um pouco acanhando com a situação, me ajoelhei e, pela primeira vez na vida, falei com Deus:

- Deus, eu tenho um vazio em meu coração. Entrego minha vida em Suas mãos, me faça um novo homem, molde-me à Sua imagem, preenche meu coração. Mate o velho homem; eu quero receber Jesus em minha vida.

Senti minha mente voltar ao presente. Meu corpo foi puxado das águas batismais - o simbólico sepulcro do velho homem; da minha carne. Ressuscitei como nova criatura, um filho de Deus renovado pelo poder de transformação do prometido Messias, Jesus. Enfim, batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

O coral da igreja pareceu entoar mais forte a música que cantava. Enquanto o pastor me abraçava dentro do tanque batismal, situado no alto, atrás do púlpito da igreja, me lembrei que um ano atrás eu me levantava daquela singela oração. Havia aberto as portas da alma para aceitar o Cristo e o vazio em meu peito era preenchido por uma paz sobrenatural.

Olhei para baixo e vi os demais fiéis cantando com o coral. Reconheci muitos rostos que me ajudaram na longa caminhada de estudos para chegar à completa convicção, pela Palavra de Deus, de qual era o ideal para minha existência. Mais que ser convencido, senti a mão operante de um Deus renovando meu ser.

Um cristianismo simples, de amor e respeito ao Criador, às Suas Leis e à Sua criatura, preencheu as lacunas da minha vida. Entreguei o velho homem, sepultei-o nas águas. Agora posso dizer: já não sou eu quem vive, Cristo vive em mim... e, claro, que venham os desafios desta nova vida, pois eu sei de onde virá meu socorro: ele virá do Senhor que fez os céus e a terra.

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