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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Entrevista - um conto de Denis Cruz

O homem engravatado do outro lado da mesa coçou o cavanhaque e levantou a sobrancelha no que me pareceu um bom sinal.

- Seu currículo é ótimo, para alguém da sua idade - disse o Sr. Assunção - Fale-me um pouco da sua experiência em nossa área.

- Fiz estágio desde meu segundo ano de faculdade - respondi - e meu gerente disse que só não fui contratado em razão de que o quadro da empresa estava completo.

Sem falsa modéstia, posso dizer que eu tinha um bom perfil par$a o contrato desta empresa, mas as palavras que seguiram me causaram certo abalo.

- Sempre falamos isso quando não queremos contratar estagiários - disse o entrevistador e devolveu meu currículo a uma pilha em cima da mesa e recostou-se na poltrona. Havia um ar de desdém em suas palavras e, ao mesmo tempo, um tom de desafio.

- Eu consideraria essa hipótese - respondi, mantendo a compostura, - caso o gerente não tivesse me apresentado formalmente ao presidente da empresa e feito um pedido de contratação para a equipe.

- Então você conheceu o presidente da outra companhia? - perguntou-me e pegou novamente o currículo. - E se, por acaso, eu o contratasse e esse presidente o convidasse para assumir o cargo que anteriormente você buscava naquela empresa? O que você faria?

Essa era uma das grandes oportunidades da entrevista. Era o momento certo de dar uma boa resposta. Arrumei-me na poltrona e falei:

- Sr. Assunção, quando apresentei meu currículo para esta conversa eu tinha duas certezas. A primeira: não estou aqui à procura de um emprego. Busco uma carreira e sei que esta empresa fornece todas as oportunidades para que eu cresça em minha profissão. Quando for admitido em seus quadros, não vou querer sair daqui. A segunda certeza: quando vocês testarem e constatarem minha capacidade, também não quererão que eu abandone a empresa. Podem apostar em mim.

O entrevistador manteve o semblante impassível, mas, desta vez, depositou meu currículo no centro da mesa, onde havia outros poucos papéis.

- Você conhece as condições do contrato e do trabalho? Tem alguma pergunta a respeito ou alguma observação relevante?

Sim, eu tinha uma "observação relevante", algo que, para muitos, era fatal. Embora fosse algo normal para mim, muitos não entendiam o que eu iria falar:

- Eu não posso atender às necessidades da empresa após o pôr-do-sol da sexta-feira até a mesma hora do sábado. Fora esse período, estou à inteira disposição de vocês.

- E qual o motivo?

- Por questão de consciência religiosa - respondi sem rodeios e, a partir daquele momento, o Sr. Assunção parecia estar olhando para um jovem que, no lugar de terno e gravata, trajava uma túnica de dois mil anos.

- Isso pode ser um problema, se não for negociável.

- Então é um problema - eu disse, mantendo o tom formal de toda a conversa e tentando relembrar ao entrevistador que eu não era um terrorista armado com bombas ao redor do corpo, - pois isso é inegociável.

O Sr. Assunção me avaliou por um breve momento. Até posso imaginar o que pensava: "Como um jovem com futuro tão promissor pode colocar em cheque uma chance dessas por motivo religioso?" Seria difícil ele entender, mas eu já estava começando a me acostumar com a falta de compreensão de alguns.

- Tudo bem! - disse ele - Em cinco dias, se a comissão aprovar seu currículo, faremos contato.

Levantamo-nos e nos despedimos com um aperto de mãos.

Saí do grande prédio sem olhar para trás. Cinco dias se passariam e não me ligariam. Aquilo não me abalou muito, pois, assim como na entrevista, eu tinha duas certezas. A primeira: fui fiel ao meu Deus. E a segunda: nessa relação, não sou o único leal. Deus é ainda mais fiel. Outras e melhores oportunidades viriam... e vieram.

...................................

Nota do autor (1): Este conto é uma ficção, ou seja, embora narrado em primeira pessoa, o personagem não sou eu, o escritor, mas um jovem recém-formado como você, leitor, pode observar.

Nota do autor (2): Achei, num site, algumas dicas para entrevistas de emprego, caso o leitor queira dar uma olhada.

Nota do autor (3): Certa vez, li em algum lugar (ótima a exatidão da minha referência, não é?) que o guardador do sábado deve, na primeira oportunidade, falar sobre a questão do dia de descanso. É ser desleal com o empregador não revelar que ele não poderá contar com o contratado aos sábados. Por isso, revele, de pronto, sua posição religiosa, assim você evitará ser contratado e, depois disso, "ter problemas" com o sétimo dia. Tenha fé, "aposte em Deus", e pode ter certeza: algumas pessoas irão apostar em você.


Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Denis, =)
Este conto se aplica exatamente as pessoas que passaram por isso. Eu mesma passei por isso, numa grande empresa, imagine um pouco comigo: Fui chamada para as entrevistas, que foram por etapas distintas, e em todas eu sabia que tinha me saído super bem e que iria ser chamada, a princípio não comentei nada a respeito de minhas convicções religiosas,(não era o momento mesmo!), então recebi o tão esperado telefonema, e fui, chegando lá pensei ser mais uma entrevista, mas p/ minha surpresa era pra assinar os papéis, abrir a conta no banco ali mesmo na instituição, e providenciar o crachá. fui, conheci o estabelecimento onde iria trabalhar, até os futuros colegas de trabalho, mas chegando lá fui informada que a maior demanda de trabalhos seria no sábado, quase não acreditei, mas não pensei duas vezes, eu disse a chefe que por questões religiosas não trabalhava aos sábados, e ela gentilmente me disse que não tinha como me adequar ao quadro, pois minha função ali,exigia minha presença nos sábados. Então ela me disse que não poderia ficar; apenas agradeci e sai.
Que desapontamento! Eu saí me perguntando: por quê Deus?, sabe aquelas perguntas desesperadas que vêm a mente. Saí frustrada, com um grande nó na garganta, tentei respirar fundo e exclamei para mim mesma, que era a vontade de Deus, que Ele tinha o melhor para mim, que ao contrário do que eu pensava aquele não era o melhor de Deus para mim. Superei a decepção, mas confiante nas promessas de Deus: Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.
Emocionei-me com o seu conto; me transportou p/ o acontecimento que relatei acima, mas também aprendi. O diálogo do conto é muito atual, e nos dá uma luz para as respostas, digo isso porque, infelizmente, muitos irmãos falam na questão do sábado em uma entrevista de emprego como um problema, e não é um problema. Não é nesse sentido que temos que tratar a respeito do descanso sabático.
Seu conto pode ajudar muitos leitores na hora de uma resposta convincente e fidedigna.
Que Deus continue lhe abençoando e lhe impressionando a escrever mensagens maravilhosas como esta.
By: Sami.

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